terça-feira, 5 de dezembro de 2017

VASCO 2017: LIVRO "100 ANOS DA TORCIDA VASCAÍNA", 2017 SÃO JANUÁRIO - 90 ANOS

                                                              “Portões Fechados, Corações Abertos”
                                                             Evandro Domingues– blogueiro vascaíno

2017                   São Januário – 90 anos

Motivo de orgulho para todos os vascaínos, o glorioso estádio do nosso clube comemorou nove décadas em 2017 com a expectativa do time do Vasco alcançar o tricampeonato carioca e de uma boa campanha na sua volta a Primeira Divisão no Brasileirão.
Palco histórico de comemorações cívicas na Era Vargas e o maior estádio do país até 1940, nosso campo esportivo em festas voltou a brilhar nas manchetes dos jornais e revistas. No entanto, não foram apenas as notícias sobre as comemorações, mas também foram destaques as manifestações de sócios e torcedores contra a diretoria e a sua interdição por quase três meses em função de uma briga generalizada ocorrida no clássico contra o Flamengo numa partida do campeonato brasileiro.
Para o campeonato carioca chegou o atacante Luis Fabiano no fim de fevereiro, trazendo uma grande esperança para a torcida vascaína que lotou o aeroporto e fazendo uma festa inigualável em sua apresentação no estádio de São Januário. O jogador fez questão de agradecer o apoio recebido: "primeiramente gostaria de agradecer a recepção maravilhosa. É uma coisa que ficará guardada para minha carreira", e continuou agradecendo "estou muito feliz, de verdade. Torcida do Vasco tem um peso muito grande. Carrega a gente. Vamos correr por eles".
O atacante de 36 anos, com passagens vitoriosas por São Paulo e seleção brasileira, foi a maior aposta do clube para a conquista do tricampeonato carioca e um bom desempenho na volta do Clube da Colina para a Primeira Divisão.
Nos estádios brasileiros e cariocas a polêmica envolvendo torcedores foi revivida com a proposta de torcida única nos clássicos por determinação da Justiça após a morte de um torcedor do Botafogo provocada por um torcedor do Flamengo. Eurico Miranda ameaçava não colocar o time em campo. Pesquisadores, no entanto, contestavam essa medida, alegando falta de eficácia como ação controladora das permanentes brigas entre torcedores rivais. Para Bernardo Hollanda[1] “o princípio de torcida única é problemático, pois se trata de uma espécie de vitória da intolerância, com o reconhecimento da incapacidade do poder público de permitir o ir e vir dos torcedores e com a própria ausência do espírito esportivo na convivência com o diferente”, concluiu.
Em São Januário, durante a partida entre Vasco e Portuguesa um torcedor do Flamengo comparece ao estádio dentro da torcida cruzmaltina e coloca nas redes sociais imagens suas com uma tatuagem do Flamengo e pede 100 curtidas. Logo uma confusão se estabelece quando o torcedor é identificado. Por pouco ele não seria linchado se não fosse a intervenção de integrantes da Ira Jovem que o entregam para a polícia.
Em abril a festa dos vascaínos estava voltada para celebrar os noventa anos do estádio de São Januário. Símbolo da luta do clube para demonstrar aos rivais a sua grandeza, o estádio continua sendo um motivo de orgulho e representação do esforço de associados em manter a tradição do “Caldeirão”, como ele passou a ser chamado carinhosamente nos últimos 20 anos.
O campeonato carioca termina com o clube sendo eliminado pelo Fluminense nas semifinais. Pouco depois da eliminação na Copa do Brasil. A verdade é que foram poucos momentos que a torcida do Vasco pode vibrar com o time e seus ídolos neste primeiro semestre. Apenas o goleiro Martin Silva e o jovem Douglas mereceram os aplausos durante toda a competição. Foram poucas as gozações para os adversários, com destaque para o jogo com o Flamengo, no Maracanã, no segundo turno (Taça Rio) e os gritos da torcida de “eliminado”, num clássico que reuniu pouco mais de 20 mil espectadores. Nem mesmo o título da Taça Rio diante do Botafogo no Engenhão empolgou a galera.
Restou o desafio de fazer uma boa campanha no retorno a primeira divisão do campeonato brasileiro. Apesar do desastre na derrota inicial para o Palmeiras de goleada (0 a 4), os torcedores abraçaram o time em São Januário lotando o estádio (maior público do ano no local: quase 18 mil pagantes) no primeiro jogo do brasileirão em nossa casa. No horário de 11 horas da manhã, o estádio presenciou uma linda festa que culminou na vitória sobre o Bahia e o gol de número 400 da carreira de Luis Fabiano.
O jogo mais polêmico do ano para os vascaínos foi disputado justamente em São Januário em julho com o Flamengo. Um tumulto generalizado entre a torcida do Vasco e a PM (dentro e fora do estádio) acarretou uma pena de interdição de nossa praça de esportes por vários jogos. Para o historiador Luiz A. Simas o que aconteceu neste jogo refletia problemas muito mais profundos na sociedade: “não é apenas sobre futebol. É sobre a cidade. A tragédia de ontem em São Januário é derivada de inúmeros fatores, tais como o despreparo da PM, a crise política do Vasco, a cultura da violência como elemento de sociabilidade entre membros de torcidas, a construção de pertencimento a um grupo a partir do ódio ao outro (elemento marcante da relação entre Vasco e Flamengo nas últimas décadas), o esfacelamento da autoridade pública no Rio de Janeiro, etc”.
Para os sócios e torcedores ir ao estádio seria apenas para a visita da exposição promovida pelo Departamento de Marketing intitulada “119 anos vestindo a Camisa”, apresentando inúmeras roupas históricas do clube. Aliás este foi o tema do documentário Segunda Pele Futebol Clube, retratando colecionadores de camisas de futebol e a sua relação de paixão com a memória do clube. Entre os entrevistados estava o torcedor vascaíno Paulo Reis.
Mesmo proibidos de entrarem em São Januário os torcedores vascaínos prestigiaram o time incentivando-o do lado de fora. Milhares de torcedores deram um “abraço coletivo”  no jogo entre Vasco e Grêmio (futuro campeão da Libertadores em 2017). A vitória que marcava a estreia do técnico José Ricardo foi muito comemorada. Para o atacante Nenê, a presença da torcida incentivando e acompanhando o jogo ao redor do estádio foi decisivo para o resultado positivo: “ O barulho da torcida, mesmo de fora do estádio, foi fundamental para continuarmos com a mesma determinação até o fim”, revelou o atacante. 
Depois do período da punição, a diretoria vascaína preferiu realizar os jogos como mandante no estádio do Maracanã visando impedir as constantes manifestações presentes nas arquibancadas de São Januário com o coro sempre presente de “Fora Eurico!”.
Quando vieram as eleições em novembro, as duas principais chapas tiveram uma acirrada disputa que dividiu sócios, torcedores e torcidas organizadas, terminando com a vitória da situação (Eurico Miranda se reelegia com 2111 votos), enquanto a oposição (lideradas por Julio Brant) alcançava 1975 votos. Embora o clima da disputa deste ano tenha sido mais civilizado que nas eleições passadas, não faltou a polêmica em torno da Urna 7. Caso a urna seja invalidada, a vitória ficaria com a oposição.
O último jogo do ano foi disputado justamente no cenário que comemorava 90 anos de glórias. A partida contra a Ponte Preta representava muito para os vascaínos. Uma vitória daria oportunidade ao clube voltar a disputar a Taça Libertadores em 2018. E a torcida deu mais uma vez uma lição de amor ao clube proporcionando o maior público no estádio do ano (cerca de 22 mil pessoas).
O resultado final deixou o Vasco em 7° lugar (entrando na pré-Libertadores). Uma surpresa para aqueles que desconfiavam do time que começou a competição com uma derrota por 4 a 0 para o Palmeiras.
A previsão pessimista de luta para não ser rebaixado não se confirmou. O time conseguiu se superar mesmo depois da crise com a troca de técnico (Milton Mendes saiu e entrou José Ricardo no meio da competição). Fora de campo a expectativa da galera continuava com a indefinição do novo presidente para os próximos 3 anos.
Sem dúvida, foi um ano que o brilho maior ficou os 90 anos de nosso estádio e a presença assídua da torcida que soube honrar e fazer juz aos torcedores do passado que ajudaram a construir uma obra que permanece na memória afetiva de todos os vascaínos. Assim como em 1927, quando não alcançamos o título, neste ano também passamos em branco. Quem sabe não pavimentamos neste ano um novo caminho de glórias com a conquista da Libertadores no ano seguinte e cantar esta música entoada nas arquibancadas
Eu vou torcer
Aqui eu ergui meu templo para vencer
Eu já lutei por negros e operários
Te enfrentei, venci, fiz São Januário
Camisas Negras que guardo na memória
Glória, lutas, vitórias esta é minha história
Que honra ser
Saiba eu sou vascaíno, muito prazer
Jamais terás a cruz, este é meu batismo
Eu tive que lutar contra o teu racismo
Veja como é grande meu sentimento
E por amor ergui este monumento..."
Fonte: Livro “100 anos da Torcida Vascaína”, escrito pelo historiador Jorge Medeiros.



[1] Entrevista para as páginas amarelas da Revista Veja após a repercussão do assassinato em 2 de março de 2017 de Moacir Bianchi  por integrantes da própria torcida que ajudou a fundar: a Mancha Verde. Fonte: Revista Veja 9 março de 2017.

Vasco foto site www.vasco.com.br 2017

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