quarta-feira, 6 de setembro de 2017

VASCO 2017: LIVRO "100 ANOS DA TORCIDA VASCAÍNA", 1910 HÁ MUITO TEMPO NAS ÁGUAS DA GUANABARA

                                    “O futebol tinha, para o remador, uma delicadeza de ballet
                                                                         Mário Filho, jornalista

1910        Há muito tempo nas águas da Guanabara

                A temperatura política foi agitada no final desse ano em Portugal e no Brasil. Na Europa explodia uma revolta em outubro que provocou o fim da Monarquia portuguesa levando milhares de moradores saírem de seu país e se deslocarem para o Brasil. Aqui a situação parecia calma até que, em novembro, os marinheiros iniciaram uma revolta e ameaçaram bombardear a cidade.
            De acordo com o censo da época a população brasileira era de aproximadamente 24 milhões, que seriam acrescidos de mais de 800 mil imigrantes ao longo dos anos 1910. Eles vão se somar aos outros três milhões de imigrantes que escolheram a nossa terra para viver.
            Desses novos imigrantes, a maioria era de portugueses (316.481). Muitos saíram de Portugal em função dos conflitos políticos e da crise da instauração da República. O perfil desse pessoal era diferente das massas empobrecidas do campo que buscavam alternativas para sair da miséria. Agora eram famílias de boa situação financeira que aplicavam suas economias na compra de imóveis, no comércio de bares e restaurantes e na criação de indústrias. Muitos desses “novos cariocas” seriam empresários de sucesso na rua do Acre, tradicional reduto dos vascaínos. Entretanto, a maior parte era proveniente das zonas rurais e no Rio de Janeiro seriam carregadores no porto, vendedores ambulantes ou vão formar a crescente massa trabalhadora nas indústrias da Capital Federal.
            Um desses portugueses que chegaria ao Brasil em 1912 e se tornaria uma lenda no Vasco era o jovem Adão Brandão que abandona a sua terra em busca de novas oportunidades e vem para o Rio de Janeiro. Em pouco tempo ele já estaria integrado na comunidade portuguesa local e se iniciado na prática de esportes. Primeiro o remo e depois muitos outros, sendo, inclusive, um dos pioneiros no futebol vascaíno em 1916.
            No campeonato de remo a vitória coube ao Santa Luzia e no futebol, o Botafogo alcançava o seu primeiro título no dia 25 de setembro, superando a hegemonia tricolor dos primeiros anos.
Apesar do público crescente e da presença da elite no estádio do Fluminense, reunindo elegantes senhoritas e homens de fraque e cartola, o maior interesse ainda estava nas águas da Guanabara.
Em comparação com os jogadores de futebol que eram mais fracos, baixos, os atletas do remo ainda dominavam o imaginário da época como os autênticos representantes do esporte moderno. A rivalidade entre eles era visível: “quem era do remo olhava quem era do futebol por cima. Julgando-se superior, mais fino. O futebol não despertava o entusiasmo do remo. Em dia de regata, na Enseada de Botafogo, sempre à tarde, na hora do futebol, não havia jogo”, compara o jornalista Mario Filho, que escreve baseado em informações de antigos esportistas, para o seu livro sobre a história do futebol carioca[1].
            Em novembro todas as regatas foram suspensas, pois uma semana após o Presidente Hermes da Fonseca assumir a presidência, os marinheiros revoltam-se em várias embarcações no Rio de janeiro. Comandados pelo negro João Candido, eles exigiam o fim do tratamento humilhante com punições de chibatadas, alem de melhores condições de trabalho e remuneração mais justa. Os revoltosos ameaçavam bombardear a cidade. Alguns dias depois o Congresso Nacional se reuniu as pressas e vota favorável as reivindicações. Em dezembro acontece uma nova rebelião no Batalhão Naval, mas o desfecho foi terrível, com a prisão, morte e exílio de centenas de revoltosos.
Fonte: Livro “100 anos da Torcida Vascaína”, escrito pelo historiador Jorge Medeiros.


[1] Fonte: O negro no futebol brasileiro, 2003, p.47.

Vasco Revista Careta 1910

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