quarta-feira, 27 de setembro de 2017

VASCO 2017: LIVRO "100 ANOS DA TORCIDA VASCAÍNA", 1916 CHUVA DE LARANJAS NA 3ª DIVISÃO

                                                 “Há de fato uma coisa séria para o carioca: o football”
                                                                               Cronista João do Rio


1916             Chuva de Laranjas na 3ª Divisão

         Após obter filiação junto a Liga Metropolitana de Desportes Terrestres (LMDT), o clube consegue se inscrever no campeonato[1] sabendo das dificuldades que iria enfrentar até chegar a almejada divisão onde se encontravam os principais times de futebol carioca. Naquele período o esporte já era o favorito da população em todas as camadas sociais e a proliferação de clubes e times de futebol era uma realidade incontestável.
            No início de janeiro era eleito presidente Marcílio Telles, um ex-remador mas que compreendia a nova época e estava disposto a incluir o futebol como um esporte de destaque no clube. Diga-se de passagem, quando Marcílio foi presidente do clube em 1911 ele já havia esboçado a criação de um departamento de futebol mas fora vetado pelos principais associados e dirigentes ligados ao remo. Agora o momento era mais propício para levar seu projeto adiante.
Os atletas do remo sabiam que a cada ano a febre do “esporte bretão” contagiava uma massa de novos praticantes e assistentes. No entanto, a vida dos torcedores vascaínos foi dura no primeiro campeonato e a realidade era que ainda não contávamos com um elenco à altura da tradição do remo. Uma campanha lastimável termina com a última colocação.
A estréia em jogos oficiais seria no dia 3 de maio no campo do Botafogo na rua General Severiano. Uma derrota por 10 a 1. Para comemorar somente a proeza do gol de Adão António Brandão, um atleta campeão do remo, além de praticar atletismo, ciclismo e outras modalidades esportivas. O jogador seria uma das figuras lendárias na história do clube, dedicando toda a sua vida como atleta e, depois, como conselheiro.
Reza a lenda que os sócios do clube jogaram laranjas nos jogadores quando retornaram para a sede de Santa Luzia, afinal aquele placar não era comum nos jogos de futebol e a humilhação atingia o nome do clube, campeão do remo.
A certeza de todos os associados aficcionados pelo clube e pelo futebol era de que seria preciso reformular o departamento de futebol e procurar atletas dos outros times do subúrbio para reforçar o elenco.
A primeira vitória (e única!) aconteceu em outubro diante do River F.C. no campo do São Cristovão. O campeão foi o Icarahy. Os outros clubes que disputaram a Terceira Divisão foram: Parc Royall (Progresso) e Brasil.
Entre as novidades no futebol brasileiro estava a fundação da Confederação Brasileira de Desportes (CDB) entidade que comandaria o destino do futebol nos anos seguintes.
Fonte: Livro “100 anos da Torcida Vascaína”, escrito pelo historiador Jorge Medeiros.


[1] De acordo com o jornal Tico-tico de 9 de fevereiro de 1916, “o campo oficial do Vasco será o do Botafogo F. Club, a rua General Severiano, usando os jogadores o seguinte uniforme: calção branco. Camisa preta com punho e gola brancos”

Vasco Revista Tico Tico 1916

domingo, 24 de setembro de 2017

VASCO 2017: LIVRO "100 ANOS DA TORCIDA VASCAÍNA", 1915 O SPORT FAVORITO DOS CARIOCAS

                       “os homens em ação, as doutrinas militantes, os atos de arrebatamento 
                      e bravura tornam os índices nos quais as pessoas passam a se inspirar”
                                                    Nicolau Sevcenko, historiador


1915                O Sport Favorito dos Cariocas

        Tricampeão de remo da cidade, o Vasco iniciava temporada daquele ano fazendo uma regata  íntima, uma atividade comum entre os clubes náuticos para promover o lazer entre os seus sócios e atletas. O jornal Gazeta de Notícias noticiou a festa vascaína realizada: “na Avenida Rio Branco em frente ao Monroe (palácio que não existe mais) foi armado um palanque de onde os sócios e convidados do simpático centro náutico assistiram a disputa dos diversos páreos (...) grande era a assistência que aplaudia os vencedores”[1]
            Mas o assunto que despertou o maior interesse neste ano veio com o criação do Departamento de futebol do Vasco que surge depois da extinção do Lusitânia. O Lusitânia Sport Club foi fundado em 1914 por vários membros da colônia portuguesa. Um dos principais organizadores do novo clube era Álvaro Nascimento Rodrigues, também conhecido como Cascadura, ou Zé de São Januário (jornalista e futuro Benemérito do Vasco).
            O interesse maior dos seus associados era de reunir os seus atletas (todos portugueses) em disputas internas, no entanto, um grupo dissidente achava que o melhor caminho era fazer como os outros clubs de imigrantes que não restringiam a presença de sócios pela nacionalidade. Este grupo era minoritário e teve que aceitar a negativa da Liga Metropolitana de sua filiação.
            No final de 1915, este mesmo grupo se rearticulou para fazer uma fusão com o Vasco e conseguir superar duas barreiras: a entrada na Liga principal de futebol no Rio de Janeiro e vencer a resistência de associados cruzmaltinos que não desejavam a presença do futebol no clube.
            Em uma assembléia Extraordinária no mês de novembro, o presidente do Vasco da Gama, Raul da Silva Campos, conseguiu o apoio necessário e ficou deliberada a criação da seção de futebol. Muito contribuiu para isso atuação de Dionísio Teixeira[2], sócio da Soto Mayor & Cia, uma importante empresa mercantil, que com o seu prestígio conseguiu reverter a oposição de alguns vascaínos e ainda levou para o clube vários associados do Lusitânia.
            O momento era o melhor possível para aproximar o clube de um esporte que contagiava toda a cidade. De acordo com o jornal O Imparcial, de 1907 até 1915, o número de clubes de futebol havia triplicado. “Se em 1907 constavam do noticiário dos grandes jornais 77 clubes de diferentes perfis sociais, em 1915 apareciam 216 (...) essa proliferação de clubes teve como conseqüência imediata e surgimento de novas ligas e campeonatos”, conclui o historiador Leonardo Miranda, autor de Footballmania (2000, p.121).
Fonte: Livro “100 anos da Torcida Vascaína”, escrito pelo historiador Jorge Medeiros.



[1] Fonte: Gazeta de Notícias, 27 de abril de 1915.
[2] Fontes: Blanc, Aldir. A cruz do Bacalhau, Rio de Janeiro, Ediouro, 2009, p.64 e Jornal O Correio da Manhã de 07 de agosto de 1927.

Vasco foto site sempre vasco

quarta-feira, 20 de setembro de 2017

VASCO 2017: LIVRO "100 ANOS DA TORCIDA VASCAÍNA", 1914 VALOROSO CENTRO NÁUTICO

                                                                                                                “pó-arroz”
                                                                                              Início do apelido do tricolor

1914                   Valoroso Centro Náutico

            Enquanto a equipe de remo do Vasco alcançava um inédito tricampeonato, a seleção brasileira de futebol realizava duas proezas: em julho vence um time de profissional da Inglaterra (Exeter City) e, em setembro, conquista o primeiro título ao vencer a Argentina na casa do adversário. Os dois resultados foram cruciais para que o nacionalismo despertado pelo esporte motivasse uma grande confiança na capacidade do futebol representar a nação. Considerando que aquele ano foi o início da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), isso não era pouco.
Milhares de pessoas receberiam os atletas que regressaram da Argentina no Cais do Porto. A repercussão na imprensa foi de surpresa tanto diante da vitória como o entusiasmo no Brasil. O nacionalismo começava a caçar as chuteiras. A revista O Malho registrava a façanha dos jogadores: “o domingo último marcou uma data gloriosa para o Sport brasileiro, com a vitoria de nosso team sobre o scratch argentino, na conquista da Copa tão benemeritamente ofertada pelo General Julio Roca ex-presidente da Argentina. O match teve assistência de público superior a 15 mil pessoas”.
            Para o Vasco, a vitória no campeonato de remo foi o motivo de grandes comemorações dos sócios e torcedores vascaínos que celebraram a conquista com o tradicional passeio de barco e um animado pic nic na Ilha do Engenho. De acordo com o jornal A Gazeta de Notícias a programação era extensa com a saída no Cais do Porto pela manhã e a volta depois das 17 horas. Muitas atividades foram programadas, como o almoço, sorteio de brindes, danças, passeios pela ilha, competições esportivas e diversas outras atividades recreativas. Cabe o registro do grau de organização do clube que designava várias comissões para o sucesso da atividade. Estas foram assim divididas: Recepção, representação e imprensa; Buffet, Dança, Música etc. Já o Correio da Manhã preferiu destacar a presença feminina: “compareceram muitas senhoras e gentis senhoritas que emprestaram notável encanto ao belo passeio”[1].
            Este foi um ano repleto de glórias para Claudionor Provenzano, considerado um dos maiores atletas de clube de todos os tempos. Sua figura imponente e seus títulos, deram-lhe grande divulgação. Sua imagem foi uma das mais usadas pelas revistas para enfatizar o caráter vigoroso do remo. Em seu peito repleto de medalhas, característica das fotos dos remadores da época, há ainda o registro de sua coragem heróica capaz de salvar vidas no mar: “é, também, um valente nadador, sendo muitas as pessoas que tem arrancado à morte dentro do mar”[2]
No campeonato de futebol ocorreram algumas novidades: o Flamengo sagrava-se campeão pela primeira vez, o Fluminense ganhava o apelido de “pó-de-arroz” da torcida do América (na verdade o apelido era para o jogador Carlos Alberto que havia trocado o América pelo Fluminense e usava o produto para disfarçar a pele escura) e a última colocação do Payssandu, tradicional clube da elite (formado por descendentes de ingleses). Com esta classificação, o clube teria que havia conquistado o campeonato em 1912, agora teria que jogar na Segunda Divisão.
A explicação para o apelido do Fluminense “pegar” é dada por Mario Filho no livro O Negro no Futebol Brasileiro (2003, p.60). Para o jornalista, o clube procurar ser o mais elitista de todos os clubes. Mesmo entre as agremiações na Zona Sul, são associados procuravam se destacar dos demais: “o Fluminense (...) era muito cheio de coisa, queria ser mais do que os outros, mais chique, mais elegante, mais aristocrático. O pó-de-arroz pegou feito visgo”.
Fonte: Livro “100 anos da Torcida Vascaína”, escrito pelo historiador Jorge Medeiros.


[1] Fonte; Correio da Manhã 14 de dezembro de 1914,
[2] Revista FON-FON, 1914.

Vasco Revista Fon Fon 1914

segunda-feira, 18 de setembro de 2017

VASCO 2017: LIVRO "100 ANOS DA TORCIDA VASCAÍNA", 1913 BRASILEIROS X PORTUGUESES

                                                                             “Remos à proa, medalhas ao peito”
                                                                                               Lema do Clube

1913                    Brasileiros x Portugueses

            A versão tradicional sobre a origem do departamento de futebol no C. R. Vasco da Gama remonta a visita de um selecionado português para enfrentar o Botafogo F.C em julho de 1913. Durante as disputas acirradas a questão da nacionalidade levou a comportamentos exacerbados em ambos os lados. A repercussão dos jogos acabou por incentivar a comunidade portuguesa residente na cidade em criar os seus próprios times.
            No entanto, com já demonstramos nos anos anteriores, alguns relatos diferentes registram que a vontade de montar uma equipe de futebol dentro do clube já vinha sendo tentada em inúmeras ocasiões, na medida em que o futebol ganhava cada vez mais a divulgação da imprensa e um número significativo de clubes surgia por toda a cidade, em diversas camadas sociais, comprovando que o futebol já teria desbancado o remo como esporte preferido para a sua prática bem como entre os assistentes.
            Enquanto os atletas do remo partiam em busca de mais um campeonato, os sócios mantinham sua fidelidade aos seus ídolos e garantiam um relativo sucesso de público nas regatas mais concorridas. Na última do ano, ocorrida no final de outubro, os torcedores comparecem em peso, tanto nos setores mais populares “a amurada da Avenida Beira-Mar se via uma linha cerrada de espectadores apreciando os movimentos dos páreos náuticos” quanto nas áreas mais nobres do Pavilhão, “com crescido número de pessoas da nossa melhor sociedade”[1].
A revista Fon-fon, especializada em reportagens sobre a vida moderna na cidade e em acompanhar o novo estilo de vida que o mundo seguia, registrava que no Rio de Janeiro, o desenvolvimento da prática esportiva como grande espetáculo seguia os mesmos passos dos países mais avançados do mundo e cita que a cidade carioca estava se igualando a França, Inglaterra, EUA, ou seja, em lugares que o esporte havia se desenvolvido. Antes praticados como exercício de lazer ou para a manutenção da saúde, agora haviam se transformado em eventos sociais que davam uma nova identidade as zonas urbanas: “as nossas festas esportivas evoluíram incontestavelmente e hoje em dia uma corrida no Derby, ou no Jockey, uma regata em Botafogo, ou uma partida de football tem a importância de um acontecimento na vida da cidade”[2].
                A verdade era de que o remo ainda era o esporte mais tradicional da cidade e durante as principais competições, a presença de público era bem significativa, no entanto, como paixão popular, o futebol já dominava as atenções de parcelas significativas da sociedade, tanto entre as elites da Zona Sul, como entre os moradores do Centro, Zona Norte e Suburbana.
            O futebol contava com aspectos favoráveis como a ampla possibilidade de ser praticado por toda a cidade, numa época de expansão urbana e crescimento populacional para todas as regiões, especialmente a zona suburbana. O local se revelou um verdadeiro celeiro de craques formados nos mais diversos clubes que se formavam para a prática exclusiva do futebol.
            Outro fator que beneficiou o futebol foi a rivalidade entre paulistas e cariocas e vice-versa. Também ocorre um maior intercâmbio com outros países e a possibilidade do futebol representar a nação. O sentimento nacionalista foi reforçado neste ano com as vitórias sobre os selecionados português (em julho) e chileno (em setembro) e contra a equipe inglesa do Corinthians (em agosto).
            No clube, a cada ano era inventada uma nova moda para atrair futuros sócios e garantir o fortalecimento da instituição que vivia uma época de glórias com a conquista do bicampeonato de remo. No último dia do ano, era promovido pelo grupo dos “Mademoiselles Barbados” uma festa irreverente, conforme anunciava o jornal O Imparcial em 30 de dezembro de 1913. Mais uma demonstração que o clube procurava expandir suas atividades além das esportivas e se constituir numa autêntica família ampliada.
Fonte: Livro “100 anos da Torcida Vascaína”, escrito pelo historiador Jorge Medeiros.



[1] Fonte: A Imprensa, 20 de outubro de 1913.
[2] Fonte; Revista Fon-Fon, 23 de agosto de 1913.

Vasco Revista O Malho 1913

quarta-feira, 13 de setembro de 2017

VASCO 2017: LIVRO "100 ANOS DA TORCIDA VASCAÍNA", 1912 TORCENDO PELOS RIVAIS

                                          “os jornais não falavam em outra coisa. Páginas e coluna
                                                       deles eram ocupadas com história de ‘matches’”
 Lima Barreto, escritor

1912                 Torcendo pelos Rivais

        Um clube no início do século geralmente se dedicava a alguns poucos esportes ou era criado exclusivamente por causa de uma atividade física que tivesse mais interessados. Isso começou a mudar com a proliferação de clubes exclusivos de futebol. Em 1912 a febre da criação desses  “clubes de football” era uma realidade em toda a cidade do Rio de Janeiro. Neste ano era criada a Liga Sportiva Suburbana, englobando clubes de futebol desta região da cidade. Uma prova que o “esporte bretão” não era mais de domínio exclusivo dos clubes da elite da Zona Sul.
            O sucesso do futebol começava a ser notado em todas as áreas. Nos estádios mais lotados, no aumento de divulgação na imprensa e na paixão do torcedor. E este foi o ponto fulcral para os amantes do esporte. Apesar do intenso ardor que o público acompanhava seus clubes nas regatas, o sentimento mais aflorado já se manifestava nos gramados onde se disputavam acirradas partidas. Era a “paixão do futebol. Era isso que assustava o clube de remo. De tal modo que foi uma luta convencer o Flamengo a entrar para o futebol. O Flamengo com sessenta sócios, se tanto, sem um campeonato de remo, impôs condições, fez tudo para não ser um clube de futebol” (Mario Filho, 2003, p.54). A criação do Departamento de futebol no Flamengo (final de 1911) não foi algo simples, pois havia um certo ciúme do setor dominante que achava que este “modismo” poderia afastar o clube de seu esporte mais importante.
            O crescente interesse pelo futebol também continuava no Vasco por meio de seus sócios e atletas que acompanhavam os jogos e torciam pelos seus clubes. Mas estes “torcedores de futebol do Vasco” ainda sonhavam com a possibilidade do nosso clube competir de igual para igual com os poderosos Fluminense, Botafogo e, a grande novidade do ano, o Flamengo, tradicional rival das regatas, que montava seu time após desentendimentos entre atletas do Fluminense  (campeão em 1911) e seus dirigentes. O memorialista vascaíno José da Silva Rocha (1975) relembra a atitude contraditória dos vascaínos entre 1911 e 1916: “aos domingos, após os jogos do campeonato, muitos sócios desciam dos bondes (...) e reuniam-se na sede de Santa Luzia comentando as peripécias dos encontros que tinham assistido. Alguns torciam pelo Fluminense, outros pelo Botafogo, pelo América, pelo Flamengo (...) os encontros eram aliciantes. Não se podia assisti-los sem tomar partido por um dos grupos em luta”
            Com a conquista do campeonato de Remo de 1912, o grupo vascaíno que se opunha se tornou mais forte e coube aos associados mais interessados na prática do futebol buscarem outras alternativas, talvez até participando de criação de clubes de futebol pelos seus locais de moradia ou de trabalho.
            Pelo campeonato carioca de futebol organizado pela Liga Metropolitana a vitória coube ao Payssandu, um clube da elite carioca, formado por muitos descendentes de ingleses. Esta foi a primeira e única conquista do grêmio. Os outros participantes foram: Mangueira, São Cristóvão, Bangu, America e Rio Cricket.
            A disputa pelo interesse da população entre o futebol e o remo viveu momentos que ora será favorável a um, ora o outro terá mais destaque. Por exemplo, no primeiro Fla-Flu disputado em 7 de julho de 1912, os jornais noticiavam com desalento que houve “pequena concorrência, calculada talvez em 800 pessoas”[1]. Mas é preciso olhar com cuidado as informações, pois nem sempre a imprensa soube representar corretamente como a paixão do público foi mudando de esporte preferido.
No mesmo dia do primeiro Fla-Flu era disputada uma regata organizada pelo Club Boqueirão do Passeio, mobilizando a maior parte das atenções da imprensa. No dia da competição estava presente o ex-presidente da Argentina Júlio Roca, que cumpria a missão diplomática de reaproximação entre os dois países. A importância dessa visita para o desenvolvimento do esporte no Brasil ainda não foi estudada pelos pesquisadores. Nos próximos anos o futebol brasileiro vai ser o maior beneficiado, com a realização de jogos entre times e selecionados dos dois países. Em 1914, será formada a primeira seleção brasileira para disputar a Copa Roca da Argentina. A partir daí vão se estreitar os laços entre outros países da região para formar a Confederação de Futebol da América.     Além de ser o ano do primeiro Fla-flu no futebol, o ano teve ainda como destaque a entrada de sócio para o Fluminense do escritor Coelho Neto, empolgado com o clube das Laranjeiras e a paixão pelo futebol de seus filhos. O literato será um dos maiores símbolos da história do tricolor, além de ter criado o hino do clube em 1915.
            O Botafogo disputou um campeonato paralelo em 1912, ao criar Associação de Football do Rio de Janeiro (AFRJ), em virtude de um protesto pela suspensão de um atleta seu no ano anterior. Além do Botafogo, campeão da competição, disputaram os seguintes clubes: o Cattete, o Internacional. O Germânia, o Paulistano e o Petropolitano.
O ano termina em festa para os torcedores vascaínos. O tradicional passeio para o pic nic na Ilha do Engelho é realizado contando com a presença de mais de 500 pessoas que lotam uma barca. Todas as principais revistas da época     (Fon-fon, O Malho e Careta) registram em fotos os momentos de descontração, animação e festividade. Era a arrancada para o inédito tricampeonato no Remo.
A grande estrela da festa do primeiro campeonato era uma embarcação chamada Íbis. Ela “tornou-se uma lenda no remo do Rio de Janeiro do início do século XX. O barco de fina fabricação italiana, construído nos estaleiros da Galinari & Co, de Livorno/ITA, ganhou a alcunha de "O Barco Invencível". Sua estréia ocorreu em julho de 1912 e reinou absoluta com dezenove vitórias consecutivas, um grande feito para época “[2].
Fonte: Livro “100 anos da Torcida Vascaína”, escrito pelo historiador Jorge Medeiros.


[1] Fonte: ASSAF e MARTINS, Fla-Flu , o jogo do Século, RJ, Letras & Expressões, 1999.
[2] Fonte: www.crvascodagama.com.br/história

Vasco Revista Careta 1912


segunda-feira, 11 de setembro de 2017

TOV 1957: AS HOMENAGENS AOS CRACKS NA CHEGADA DA EUROPA

Para receber seus jogadores os torcedores Vascaínos, chefiados por João de Lucca, organizaram um grande número de festividades. Iniciaram com um desfile, com carros alegóricos para trazerem os jogadores e os troféus ganhos durante a excursão, e que obedeceu o seguinte itinerário:
Av. Brasil,  Av. Rodrigues Alves, Rua Acre, onde foi feita uma parada naquele grande reduto Vascaíno onde numerosos “casacas” foram dados com grande queima de fogos, prosseguindo pela Rua Uruguaiana, Largo da Carioca, Galeria Cruzeiro, Av. Rio Branco, Av. Presidente Vargas, Leopoldina, dali rumando para o Estádio do Vasco da Gama, onde uma grande recepção foi oferecida aos jogadores.

O Vasco fez dez amistosos, jogou Antilhas Holandesas (Curaçao), USA, França, Espanha, Portugal, URSS (Ucrânia), URSS (Russia) e foi Campeão do Torneio de Paris (França, Vasco 3 x 1 Racing e Vasco 4 x 3 Real Madri).e da Taça Teresa Herrera (Espanha, Vasco 4 x 2 Athetic Bilbao).

TOV 1957

TOV 1957

domingo, 10 de setembro de 2017

VASCO 2017: LIVRO "100 ANOS DA TORCIDA VASCAÍNA", 1911 O FOOTBALL É BARRADO PELO ROWING

“a tentativa de fundar o futebol no Vasco é anterior a vinda dos portugueses ao Brasil”
                                                  Álvaro Nascimento- jornalista

1911           O Football é barrado pelo Rowing

        Até o começo desta década a imprensa dava maior destaque para as competições na Enseada de Botafogo. Em domingo de regatas era comum no dia seguinte e durante a semana, os jornais e revistas enfatizarem a presença das mulheres mais elegantes da sociedade ocupando os lugares de destaque nos setores mais importantes do Pavilhão.
            Até hoje não foi feita nenhuma pesquisa acadêmica para quantificar como foi a mudança para a inversão do destaque para o futebol no lugar que era ocupado pelo remo na imprensa carioca. Mario Filho (2003, p.48) aborda esta questão sem precisar a época da mudança, pois antes “os jornais falavam mais do remo. Dedicavam uma página inteira para o rowing em dia de regata. Nesse dia não havia lugar para o noticiário do futebol, sempre mais escasso, espremido. Numa coluna. Nada de manchetes, de crônicas, de fotografias”.
            Em nosso levantamento de fontes iconográficas constatamos que até 1915 o Vasco teve inúmeras imagens de seus atletas em competição, dos associados na sede em datas comemorativas e nas atividades recreativas (os famosos pic nics). A partir de 1916, quando se inicia o futebol no clube, foram muito escassas as informações das partidas do Vasco. Praticamente eram resumidas em pequenas notas, sem maiores dados sobre o público e a escalação. Enquanto isso, o futebol dos clubes da Primeira Divisão já recebe um tratamento diferenciado, com relatos pormenorizados das partidas e inúmeras fotos dos jogadores e dos estádios lotados.
            Em termos comparativos, podemos constatar que o sucesso do futebol veio com a disseminação dos clubes por toda a cidade nestes anos, enquanto o número de clubes de remo ficou estacionado na mesma quantidade do início do século.
            Muitos clubes de remo viram crescer no interior de suas sedes as conversas de associados sobre a possibilidade de que o futebol também pudesse fazer parte do rol de esportes praticados pela agremiação. Também nutriam o desejo de fazer parte da Liga Metropolitana e daí competir contra os mais tradicionais clubes como o Fluminense, o Botafogo e o América.
            No Vasco, o primeiro grande movimento para introduzir o futebol no clube começou em fevereiro de 1911, quando um grupo de associados, reunindo cerca de 15 jovens, faz uma reunião na sede do clube para tentar implantar um Departamento de Futebol[1]. O pedido foi negado. O remo era o esporte principal do clube e o futebol não era um esporte ainda bem-vindo, pelo menos para os que comandavam a agremiação. Contudo, no final de 1911, o Flamengo, tradicional rival do Vasco, resolve aderir ao futebol, apesar da reação contrária de muitos dos seus atletas do remo.
Fonte: Livro “100 anos da Torcida Vascaína”, escrito pelo historiador Jorge Medeiros.


[1] Cf. Malhano, Clara. São Januário, arquitetura e história. Rio de Janeiro, Mauad, 2002.

Vasco Revista O Malho 1911

quarta-feira, 6 de setembro de 2017

VASCO 2017: LIVRO "100 ANOS DA TORCIDA VASCAÍNA", 1910 HÁ MUITO TEMPO NAS ÁGUAS DA GUANABARA

                                    “O futebol tinha, para o remador, uma delicadeza de ballet
                                                                         Mário Filho, jornalista

1910        Há muito tempo nas águas da Guanabara

                A temperatura política foi agitada no final desse ano em Portugal e no Brasil. Na Europa explodia uma revolta em outubro que provocou o fim da Monarquia portuguesa levando milhares de moradores saírem de seu país e se deslocarem para o Brasil. Aqui a situação parecia calma até que, em novembro, os marinheiros iniciaram uma revolta e ameaçaram bombardear a cidade.
            De acordo com o censo da época a população brasileira era de aproximadamente 24 milhões, que seriam acrescidos de mais de 800 mil imigrantes ao longo dos anos 1910. Eles vão se somar aos outros três milhões de imigrantes que escolheram a nossa terra para viver.
            Desses novos imigrantes, a maioria era de portugueses (316.481). Muitos saíram de Portugal em função dos conflitos políticos e da crise da instauração da República. O perfil desse pessoal era diferente das massas empobrecidas do campo que buscavam alternativas para sair da miséria. Agora eram famílias de boa situação financeira que aplicavam suas economias na compra de imóveis, no comércio de bares e restaurantes e na criação de indústrias. Muitos desses “novos cariocas” seriam empresários de sucesso na rua do Acre, tradicional reduto dos vascaínos. Entretanto, a maior parte era proveniente das zonas rurais e no Rio de Janeiro seriam carregadores no porto, vendedores ambulantes ou vão formar a crescente massa trabalhadora nas indústrias da Capital Federal.
            Um desses portugueses que chegaria ao Brasil em 1912 e se tornaria uma lenda no Vasco era o jovem Adão Brandão que abandona a sua terra em busca de novas oportunidades e vem para o Rio de Janeiro. Em pouco tempo ele já estaria integrado na comunidade portuguesa local e se iniciado na prática de esportes. Primeiro o remo e depois muitos outros, sendo, inclusive, um dos pioneiros no futebol vascaíno em 1916.
            No campeonato de remo a vitória coube ao Santa Luzia e no futebol, o Botafogo alcançava o seu primeiro título no dia 25 de setembro, superando a hegemonia tricolor dos primeiros anos.
Apesar do público crescente e da presença da elite no estádio do Fluminense, reunindo elegantes senhoritas e homens de fraque e cartola, o maior interesse ainda estava nas águas da Guanabara.
Em comparação com os jogadores de futebol que eram mais fracos, baixos, os atletas do remo ainda dominavam o imaginário da época como os autênticos representantes do esporte moderno. A rivalidade entre eles era visível: “quem era do remo olhava quem era do futebol por cima. Julgando-se superior, mais fino. O futebol não despertava o entusiasmo do remo. Em dia de regata, na Enseada de Botafogo, sempre à tarde, na hora do futebol, não havia jogo”, compara o jornalista Mario Filho, que escreve baseado em informações de antigos esportistas, para o seu livro sobre a história do futebol carioca[1].
            Em novembro todas as regatas foram suspensas, pois uma semana após o Presidente Hermes da Fonseca assumir a presidência, os marinheiros revoltam-se em várias embarcações no Rio de janeiro. Comandados pelo negro João Candido, eles exigiam o fim do tratamento humilhante com punições de chibatadas, alem de melhores condições de trabalho e remuneração mais justa. Os revoltosos ameaçavam bombardear a cidade. Alguns dias depois o Congresso Nacional se reuniu as pressas e vota favorável as reivindicações. Em dezembro acontece uma nova rebelião no Batalhão Naval, mas o desfecho foi terrível, com a prisão, morte e exílio de centenas de revoltosos.
Fonte: Livro “100 anos da Torcida Vascaína”, escrito pelo historiador Jorge Medeiros.


[1] Fonte: O negro no futebol brasileiro, 2003, p.47.

Vasco Revista Careta 1910

domingo, 3 de setembro de 2017

VASCO 2017: LIVRO "100 ANOS DA TORCIDA VASCAÍNA", 1909 SEDE DE SANTA LUZIA

                                                    “guarnições do Club de Regatas Vasco da Gama”
                                                                Legenda da Revista Careta


1909                     Sede de Santa Luzia

        Depois de bicampeonato de 1905-6 o clube vai ficar um bom período sem conquistar um novo campeonato no Remo. Enquanto isso, o Gragoatá e o Regatas e Natação de Santa Luiza (4 vezes) conquistavam títulos e se tornavam os maiores vencedores nos primeiros anos de campeonatos oficiais na cidade. No entanto, com o tricampeonato em 12-13-14, o C. R. Vasco da Gama retomará a hegemonia e se consolidará como o maior vencedor das regatas nos 20 primeiros anos.
            Era inegável que o remo ainda desfrutava de grande popularidade. A melhor prova disso era a intensa divulgação nos principais jornais e revistas da época. As mais importantes revistas desse período eram O Malho, Revista da Semana, Careta e Fon-Fon. Estas duas últimas foram lançadas nos anos anteriores e comprovavam o sucesso das publicações que exaltavam um novo estilo de vida mais descolado das tradições do século XIX.
Diferente dos clubes de futebol que se multiplicavam por toda a cidade nestes anos, os clubes criados voltados preferencialmente para o remo tiveram sua proliferação somente no final do século XIX, quando surgiram os principais clubes. Em 1909 e nos anos seguinte eles continuariam dominando as regatas. Eram eles: Club de Regatas Vasco da Gama, Club de Regatas Boqueirão do Passeio, Club de Regatas São Cristóvão, Club de Regatas Botafogo, Club de Regatas Guanabara, Club de Regatas Icaraí, Club de Natação e Regatas, Club Internacional de Regatas, Club de Regatas do Flamengo e Grupo de Regatas Gragoatá.
Na competição mais importante do ano disputada em agosto, os jornais divulgavam a presença de celebridades no Pavilhão e de um grande público que prestigiava a competição: “a Enseada de Botafogo revestiu-se de gala para a realização da prova náutica”[1], contando com as presenças ilustres do Presidente da República, Nilo Peçanha, do ministro da Marinha, Almirante Alexandrino e do ex-prefeito da Capital Federal, Pereira Passos. Também ocupava o Pavilhão o ex-presidente do Vasco, Candido de Araújo, que neste ano se tornou presidente do clube Boqueirão do Passeio. Sua saída ocorreu depois de 1906 quando ele não ficou satisfeito ao ser derrotado nas eleições ocorridas poucos anos atrás.
 Fonte: Livro “100 anos da Torcida Vascaína”, escrito pelo historiador Jorge Medeiros.


[1] Fonte: A Imprensa, 23 de agosto de 1909.

Vasco Revista Careta 1909