domingo, 9 de julho de 2017

VASCO 2017: LIVRO "100 ANOS DA TORCIDA VASCAÍNA", 2012 A DESPEDIDA DO ANIMAL

                               “ão,ão,ão derruba a do anão” e “au,au,au. Estátua para o Animal”
                                                   Torcida provoca Romário e apóia Edmundo

2012                 A Despedida do Animal
        Edmundo, Juninho e Felipe. Três dos maiores jogadores da história do clube protagonizaram as manchetes dos jornais e a atenção de sua torcida no início do ano de 2012. O atacante fazia sua partida de despedida depois de abandonar os gramados em 2008. Os meias comandavam em campo o toque de classe do time que prometia colocar a nau vascaína no caminho das grandes vitórias. A esperança maior era o título da Taça Libertadores, mas antes o desafio seria o campeonato carioca e a promessa de acabar com o jejum de quase dez anos que incomodava bastante  a exigente torcida.
            A boa fase do time motivava o mercado editorial que lançava mais um livro sobre o clube. Desta vez era uma série de contos escritos pelo sociólogo Mauricio Murad, o músico Nei Lopes e o professor de literatura da UFF, Luis Maffei. “Contos da Colina. 11 ídolos do Vasco e sua imensa torcida bem feliz”. A obra conta doze contos, onze com uma estória em torno de um craque vascaíno, e um em que o protagonista é a torcida cruz-maltina.
No final de março, em partida amistosa contra o Barcelona do Equador (mesmo adversário da final da Liberadores em 1998) diante de 21.000 pessoas, Edmundo fazia sua despedida do clube em que atuou por 241 vezes marcando 137 gols: “A emoção entrou em campo bem antes de a bola rolar. Com os refletores do estádio apagados, Edmundo entrou em campo sozinho para ser saudado pelos milhares de torcedores que lotaram São Januário para ver o ídolo com a camisa do Vasco pela última vez. Número 10 às costas, o ex-atacante não conseguiu segurar a emoção e precisou enxugar as lágrimas. O próximo passo foi receber a braçadeira de capitão do apoiador Juninho Pernambucano. Depois de uma bela queima de fogos, Edmundo ainda recebeu uma placa do presidente Roberto Dinamite e fez o seu papel de ídolo ao cantar todo o hino vascaíno, que era tocado no alto-falante do estádio, em coro com os torcedores”.
Na partida que terminou 9 a 1, Edmundo marcou dois gols mas a emoção final ficou aos 40 minutos do segundo tempo quando o ídolo foi substituído e saiu dando a volta olímpica pelo estádio que o aplaudiu de pé.
Um mês depois Felipe, que havia recebido a braçadeira de Edmundo na sua despedida, faz uma de suas melhores exibições com a camisa do Vasco e marca dois gols na eliminação do Flamengo na semifinal do campeonato carioca. Em resposta ao atacante o Flamengo que havia provocado os vascaínos na véspera da partida decisiva, Felipe deu o troco e afirmou: “as partidas se ganham dentro de campo e não fora. Agora sim eu posso responder ao Vagner Love. Ele tem 28 dias para descansar e treinar para o Brasileiro. Realmente se ganha dentro de campo. Quem ganha a vida com a boca é cantor. Ele tem 28 dias para aproveitar”.
A decepção da torcida com a derrota para o Botafogo na final da Taça Rio só não foi maior que a tristeza com a eliminação para o Corinthians nas quartas-de-finais da Libertadores em São Paulo, em partida que o clube carioca teve grande atuação e viu o atacante Diego Souza perder um gol incrível que, certamente, daria a classificação para a próxima fase.
Em 2012 voltou a funcionar a Associação das Torcidas Organizadas do Vasco (ASTOVAS) depois de ficar mais de uma década desativada. Faziam parte da entidade os representantes das seguintes torcidas: Força Jovem, Ira Jovem, Guerreiros do Almirante, Renovascão, União Vascaína, Super Jovem, Rasta do Vasco, Vasboêmios, Vila Vasqueire, TOV e Pequenos Vascaínos. Tendo como presidente  Claudinho, ex-Presidente da Força Jovem.
Neste período dois livros importantes aumentariam a coleção de obras de leitores vascaínos. O trio Alexandre Mesquita, Eugênio Leal e Jefferson Almeida lançavam “Jogos Memoráveis do Vasco”. Outro livro importante foi a Torcida Brasileira, organizado por Bernardo Holanda, Victor Melo e João Malaia. Este último que havia defendido sua tese sobre o Vasco em 2010, escreve sobre as torcidas cariocas entre 1910 e 1940, destacando que nos anos 1920 tínhamos a maior torcida da cidade.
No meio do ano a principal notícia foi a aprovação da Lei Geral da Copa (12.663/12) no dia 5 de junho de 2012 sancionado pela Presidência da República. A lei trazia vários artigos polêmicos como a liberação do consumo de bebidas alcoólicas dentro dos estádios, isentar a FIFA dos pagamentos das taxas áreas de restrições comerciais próximas aos locais dos eventos e a previsão de exclusividade da FIFA da divulgação, publicidade, realização de propagandas e vendas relacionadas aos eventos futebolísticos, delimitando um perímetro de 2 (dois) quilômetros dos locais de eventos.
Em 2012 a Câmara Municipal do Rio de Janeiro fazia seu último tributo ao “Dia do Vasco” em agosto. O evento criado pelo vereador Roberto Monteiro não teve prosseguimento nos próximos anos. Entre os muito homenageados estava  o guitarrista Celso Blues Boy, falecido neste mês de agosto, em Santa Catarina.
O estádio do Engenhão passou a ser o principal local das disputas dos clássicos cariocas com o fechamento do Maracanã entre 2010 e 2013, passando a receber grande atenção da imprensa e dos pesquisadores sobre sua localização, dificuldade de receber grandes torcidas rivais e o aumento do preço dos ingressos, além da diminuição do publico. Mas os maiores confrontos não aconteciam na chegada ao estádio que tinham as partidas escoltadas pelo GEPE e sim em locais distantes. Os jogos entre Vasco e Flamengo terminam em mortes em 2012. Várias medidas repressivas são tomadas para impedir novos crimes. No dia 21 de agosto, pouco depois de um clássico entre os dois clubes, a Força Jovem do Vasco é punida pelo Ministério Público por seis meses dos estádios após a conclusão de que a morte de um torcedor do Flamengo em maio tinha sido executada por membros da facção. Pouco depois  o alvo da perseguição era a Torcida Jovem do Flamengo em função  do assassinato no bairro de Tomas Coelho do torcedor do Vasco Diego Leal, de 30 anos, após uma briga com flamenguistas no domingo (dia 19), em provável ato de vingança pela morte do torcedor do Flamengo em maio deste ano. As duas torcidas recebem a mesma punição do Ministério Público: o afastamento dos estádios por seis meses.
Na mesma semana no jogo entre Vasco e Fluminense no Engenhão, um grupo de torcedores do tricolor era preso acusado por roubo e agressão. A reportagem é enfática em defender as medidas punitivas: “no país da próxima Copa do Mundo, a menos de um ano da Copa das Confederações, surgiu, enfim, um exemplo de como tratar o banditismo disfarçado de torcida organizada. Desde domingo, estão no presídio de Bangu 2, na zona oeste do Rio, 21 integrantes da Young Flu. O grupo foi preso pelo Grupamento Especial de Policiamento em Estádios (Gepe), da Polícia Militar, acusado de espancar e assaltar dois torcedores do Vasco. A cadeia é o lugar adequado para quem se disfarça de torcedor para cometer barbaridades. E, como demonstra o passado recente das brigas de torcida, não basta banir os criminosos dos estádios. No caso do grupo da Young Flu, a confusão se deu fora e longe do Engenhão, onde Fluminense e Vasco se enfrentaram na tarde de sábado. Mas a prisão só poderá ser considerada exemplar se, em seguida, investigações ajudarem a extirpar o resto do bando - e não só da Young Flu, mas de outros grupos de delinquentes no Rio e no resto do Brasil” .
Em contraposição a esta perspectiva o historiador Marcos Alvito escreve um texto contestando a solução policial para as torcidas organizadas: “ao invés de perceber a violência das torcidas como fruto de patologias individuais ou coletivas, é preciso entendê-la como uma linguagem e se perguntar sobre a razão de, no Brasil, milhares de jovens escolherem pertencer a estes grupos. Murad relaciona a violência dos estádios (e em torno deles) com o alto grau de ilegalidade existente”[1] .
Embora a temporada de 2012 não tenha sido negativa o final do ano mostrou que a próxima temporada seria complicada. Nas últimas partidas do ano em São Januário a torcida Guerreiros do Almirante passa a acompanhar os jogos das sociais e protesta contra o presidente de forma veemente: “nós estamos TEMPORARIAMENTE NAS SOCIAIS, abandonando nosso tradicional lugar atrás do gol, para mostrar ao presidente Carlos Roberto de Oliveira, seus antigos e novos aliados, que SOMOS SÓCIOS E QUEREMOS MUDANÇAS!
As notícias da saída de Juninho para os EUA e a falta de pagamentos dos funcionários provocaram insatifação no clube no mês de dezembro: “cerca de 50 torcedores fizeram novo protesto em São Januário na tarde desta sexta-feira. O grupo voltou a atirar bananas para dentro do clube, além de gritar palavras de ordem contra o presidente Roberto Dinamite e toda a diretoria cruzmaltina. Inflamados, os torcedores exibiam faixas com os dizeres: “Juninho é rei! Obrigado pela verdade” e “O Vasco é gigante! Mete o pé, Bananite!”, enquanto soltavam fogos e gritavam pedindo que a diretoria colocasse em dia os salários de funcionários e jogadores”.
O fantasma de Eurico Miranda começava a voltar pelo estádio de São Januário e atormentar o sossego da gestão de Roberto Dinamite. Nos próximos anos, a disputa política interna voltaria com todo vigor. Para os vascaínos que começavam a sentir saudade do velho dirigente, o final do ano vinha com uma artilharia pesada do grupo de Eurico. Era lançado o livro “EURICO MIRANDA.Todos contra ele”, escrito pelo jornalista Sérgio Frias, com mais de 500 páginas descrevendo as lutas e os embates do dirigente. Rapidamente o livro esgotou nas livrarias e ganhou sucessivas edições no ano seguinte.
Fonte: Livro “100 anos da Torcida Vascaína”, escrito pelo historiador Jorge Medeiros.


[1] Fonte: Alvito, Marcos. Maçaranduba neles!Torcidas organizadas e policiamento no Brasil. Revista Tempo | Vol. 19 n. 34 , 2012.

Vasco Engenhão 2012

Vasco São Januário 2012

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