domingo, 23 de julho de 2017

VASCO 2017: LIVRO "100 ANOS DA TORCIDA VASCAÍNA", 2016 AQUI É VASCO

                                       “A partida de futebol é mais disputada por torcedores 
                                                               do que por atletas no campo”
                                                              Drummond, poeta e vascaíno

2016                           Aqui é Vasco
        A temporada vascaína neste ano foi bem esquizofrênica. No primeiro semestre a caravela do Almirante atravessou os mares atropelando os adversários cariocas e levantou com brilho o bicampeonato estadual. O time permaneceu 34 jogos invictos e apresentou todas as melhores credenciais para fazer uma ótima campanha pela Série B no segundo semestre. No entanto, o que se viu foi uma travessia marcada por muitas turbulências, com derrotas para times inexpressivos e um desempenho pífio. Resultado: estádios vazios e desânimo geral da torcida com o elenco.
            Logo no início do ano, o clube inicia uma campanha de sócio-torcedores intitulada “Gigante”. A iniciativa visava aumentar o número de associados e era baseada em modernos conceitos de marketing esportivo, com promoções diversas e outros atrativos. Por outro lado, o presidente Eurico Miranda, sugeria uma “Bolsa Torcedor”, criando um sistema de cotas para os adeptos mais carentes com ingressos de baixo custo.
            Em ano de Olimpíada na Cidade Maravilhosa no mês de agosto, os clubes cariocas ficaram sem os dois estádios reservados para o evento: o Maracanã e o Engenhão permaneceram fechados nestes meses.  Para o Vasco isso não foi um grande problema pois o estádio de São Januário foi utilizado pelo clube em diversos jogos, como na partida com o Flamengo, em fevereiro. Ao terminar a disputa com vitória vascaína, o principal jogador do elenco, Nenê, resolver inverter as ações e filma a festa da torcida vascaína. Em tempos de popularização de smartphones, as imagens se multiplicam pelas redes sociais. Foi-se o tempo em que os torcedores se aproximavam dos ídolos para pedir um autógrafo. A moda nestes anos era tirar uma selfie com o craque e postar nas redes sociais.
            O campeonato prosseguia e o clube permanece com uma campanha tranqüila jogando com o Fluminense (decisão da Taça Guanabara) e Flamengo em Manaus, na Arena Amazonas. Nesta cidade novas vitórias levam o clube disputar o campeonato com o Botafogo em maio. A partida contra o rubro-negro, particularmente, teve um sabor especial, com a seqüência de nove partidas sem conhecer derrotas para o principal rival.
            Nas duas partidas da final do estadual, os clubes conseguem a reabertura do Maracanã. O estádio recebeu nas duas vezes um público estimado em 60 mil torcedores por partida. Na segunda, a torcida vascaína era maioria absoluta. A festa do título foi marcada com o mosaico “Aqui é Vasco”. Uma frase proferida pelo capitão do time, o zagueiro Rodrigo, em alusão aos torcedores e jogadores do Flamengo, inconformados com a superioridade dos cruzmaltinos  na temporada. Era o 24° título estadual, sendo o 6° invicto.
             Começa o campeonato brasileiro na Série B e o clube é apontado pela imprensa como favorito absoluto. Os resultados iniciais confirmam as expectativas e a torcida se empolga com a possibilidade do time bater o recorde histórico de mais de 35 partidas invictas, feito alcançado na década de 1950.
Em junho, o jornal O Dia, promove a festa da Seleção do Campeonato Carioca e vários jogadores vascaínos foram escolhidos. Um deles, o zagueiro Luan, convocado para disputar o título inédito de Medalha de Ouro nas Olimpíadas, que agradece o apoio dos torcedores. Outro premiado foi o técnico Jorginho que ressaltou: "quero agradecer de todo coração à votação de todos os torcedores. Fico muito feliz de ter sido escolhido o melhor treinador do Carioca. Isso aconteceu pela federação e também pelo voto popular. Fico muito lisonjeado e grato porque, com certeza, marquei meu nome na história do futebol Carioca e do Vasco”[1].
Na mesma época, o jornalista André Schmidt, lança o livro “Da queda ao Bi – a trajetória do Vasco em crônicas”. Uma coletânea de artigos escritos no período de recuperação da auto-estima dos vascaínos sob o comando do técnico Jorginho. Mesmo fazendo uma campanha de recuperação no final de 2015, o treinador não consegue reverter a situação. Mais uma vez a torcida amargava o dissabor de acompanhar o clube viver a experiência negativa de rebaixamento por 3 vezes em 8 anos.
Talvez estes insucessos expliquem o baixo público em São Januário durante o ano com média de 6.000 torcedores. Uma pesquisa para identificar os motivos da baixa média de público da equipe na Colina, realizada pela Comissão de Festas Cruz-Maltinas[2],  apontou outros dois problemas principais: o alto valor dos ingressos e a dificuldade de acesso ao estádio. Apesar do departamento de marketing ter lançado o novo plano de sócios (Gigante), os números alcançados ainda decepcionantes. Segundo os dados do Movimento Por um Futebol Melhor, o Vasco ocupava a 21ª posição no ranking de sócio-torcedores.
Em campo, a perda da invencibilidade veio com o resultado adverso de 2 a 1 para o Atlético-GO, em Cariacica (ES). Era o primeiro indício de que o elenco tinha problemas. O deslocamento constante por regiões distantes do eixo Rio-São Paulo, prejudicava o grupo que contava com muitos jogadores com mais de 30 anos.
Em agosto o movimento “Guerreiros do Almirante” completava dez anos de existência comemorando com uma grande festa. No campeonato carioca os torcedores tinham confeccionado uma grande bandeira com o rosto da torcedora-símbolo Dulce Rosalina.
Numa outra pesquisa, promovida pelo Jornal Lance/IBOPE, revelou que o Vasco contava com 3 milhões de torcedores no RJ. Porém, em comparação com os números da primeira pesquisa (1998), houve um aumento dos torcedores rubro-negros. Os números indicavam que a torcida do Flamengo era maior do que as de Vasco, Fluminense e Botafogo juntas. Em 1998 representava 38 %, agora são 48,3%. Na pesquisa, o Vasco agregava 18,7% dos cariocas, percentual que superava o total de tricolores e botafoguenses (17,4%). Juntas, as duas torcidas tiveram uma redução de 4,6%. Se esta notícia agradou a turma da Flapress, para os vascaínos, o que valeu no ano foram as inúmeras gozações que os rubro-negros sofreram neste ano. Uma das músicas mais cantadas pelos vascaínos dizia: “Oh mulambo, tu não tem Estádio,/Oh mulambo, tu não tem Estádio,/ pediu pra jogar, em São Januário,/Eurico falou joga na casa do c.....”
O desempenho irregular no campeonato da Série B acabou gerando inevitáveis protestos dos torcedores. A reação do clube foi punir algumas torcidas organizadas: “(estas tem) sofrido punições nos últimos jogos. Diante do Avaí, por exemplo, a diretoria solicitou à Polícia Militar a proibição de instrumentos, faixas, bandeiras e outros materiais de todas elas. Já diante do Luverdense, a restrição se deu somente à Guerreiros do Almirante e à Força Independente. As duas, além da Ira Jovem, recentemente divulgaram notas de repúdio ao ato”[3]. No mesmo dia um grupo de cerca de 50 torcedores propõem uma reunião com o capitão do time, o zagueiro Rodrigo.
Nos jogos contra CRB, Avaí e Luverdense o presidente Eurico Miranda foi hostilizado pela torcida, que pediu sua saída do comando. Em nota oficial, a maior torcida organizada do Vasco, a Força Jovem, esclarece sua posição diante do impasse entre os torcedores e o clube: “O G.R.T.O Força Jovem Do Vasco, vem, através de sua diretoria unificada em caráter de esclarecimento, externar, que nenhum integrante de nosso quadro social esteve presente na data de hoje (11/11/16), em São Januário. Lembramos que nossa instituição esteve presente ontem (10/11/16), representada por 50 sócios, em uma reunião pacífica e ordeira com o departamento de futebol do Vasco, visando melhorias no desempenho do time em campo”[4].
Os últimos jogos da Série B foram dramáticos para a torcida que acompanhava incrédula ver o time perder a liderança e cair para o 4° lugar sendo ameaçado de ser o único clube grande não conseguir voltar para a Série A. O desânimo dos torcedores tomou conta dos torcedores que se ausentam dos jogos em São Januário. A decepção com o time fica evidente numa crônica de um jovem torcedor em sua coluna no site Guerreiros da Colina “é bem compreensível a total falta de vontade de acompanhar o time em uma situação tão calamitosa quanto a atual. Acabou a paciência, os vascaínos não agüentam mais essa crescente coleção de fracassos"[5].
No dia 27 de novembro[6] os jornais cariocas estampavam em suas capas as duas manchetes principais: a morte do líder cubano Fidel Castro e a classificação do Vasco para a Série A após vencer o Ceará no Maracanã, no último jogo do campeonato. O estádio recebeu o maior público do Vasco no segundo semestre (49.259 pagantes), revelando que a torcida abraçava o clube apesar do descrédito no time e em seus dirigentes. Ao final da partida o que se viu não foram cantos de entusiasmo, mas xingamentos para o presidente Eurico Miranda.
Terminamos nossa pesquisa recorrendo a uma crônica de Carlos Drummond de Andrade pouco conhecida dos vascaínos. Nela o poeta faz uma homenagem a um dos ascensoristas do prédio do Ministério da Educação e torcedor fanático do Vasco.
O contraste entre a vida de um humilde funcionário que realiza um trabalho repetitivo e sua expressão constante de felicidade chama a atenção do escritor: “sem motivo algum para agradecer à vida, ele agradecia e nos comunicava o otimismo gratuito (...) ninguém sabia que ele se chamava Afonso Ventura. Mas todos sabiam que o seu maior amor era o Vasco da Gama. Liam-se no seu rosto as vitórias do Vasco. As derrotas não era possível ler, pois o rosto do Amigo continuava a espelhar a vitória da semana atrasada ou já espelhava a da semana que vem, que esta seria infalível, 4 a 0, ‘é o Maior’. O Vasco, para ele, não perdia nunca; no máximo, deixava de ganhar, ‘dessa vez’ (...)”[7].
A lição de vida deste torcedor demonstra o poder que a paixão por um clube tem para transformar nosso cotidiano de pouco brilho num turbilhão contínuo de emoções e sentimentos capazes de realizar os desejos fundamentais do ser humano.
Esperamos que a alegria contagiante do torcedor anônimo seja a marca de nossa torcida sempre. Que venham mais 100 anos!!!
Fonte: Livro “100 anos da Torcida Vascaína”, escrito pelo historiador Jorge Medeiros.


[1] Fonte: Jornal O Dia. 23 de junho de 2016.
[2] Grupo que organiza mosaicos e bandeirões
[3] Fonte: UOL. 9 de novembro de 2016.
[4] http://www.forcajovem.com.br , 11 de novembro de 2016.
[5] Rafael Serfaty em crônica "Presente sombrio, futuro nefasto"
[6] Neste mês o Jornalista Cláudio Nogueira, autor de vários livros de futebol, lança o e-book  “Vamos cantar de coração: Os 100 anos do futebol do Vasco da Gama” (Biblioteca Digital do Futebol Brasileiro).
[7] Fonte: Correio da Manhã 12 de setembro de 1965.

Vasco São Januário 2016

Vasco São Januário 2016

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