quarta-feira, 12 de julho de 2017

VASCO 2017: LIVRO "100 ANOS DA TORCIDA VASCAÍNA", 2013 VASCAÍNOS NA REDE

                                                                                    “Não vai ter Copa e vai ter luta”
                                                                                          Manifestações em junho

2013                    Vascaínos na Rede
        Para quem acreditava que o brasileiro era um povo acomodado e a internet só servia para manter as pessoas alienadas em suas redes sociais, teve que refazer seu pensamento pois o ano foi marcado por intensas manifestações e a as novas formas virtuais de comunicação se mostraram canais eficientes de propagação de cidadania.
O sucesso da internet ampliou as oportunidades dos usuários de todo o mundo entrar em contato com as informações de uma nova forma revolucionado o comportamento, os costumes e as tradições no modo do torcedor acompanhar o seu clube do coração. Imagens raras e conteúdos de pouca circulação passam a ser exibidos em sites de vídeos como o Youtube, por exemplo. Milhões de imagens são produzidas com o barateamento das máquinas de filmar e fotografar, gerando uma nova memória coletiva através de um conteúdo fantástico de cenas dos torcedores nos estádios quase que instantaneamente. No entanto, um novo conjunto de práticas de crimes virtuais também se propagam estimulando a intolerância e o acirramento dos conflitos entre os torcedores. Cenas de brigas passam e ser exibidas ostentadas como troféus virtuais. Xingamentos e ofensas nas redes se tornam corriqueiros.
            Com a ampliação da banda larga no país se multiplicam os blogs de torcedores e os tradicionais sites do Vasco aumentam suas receitas modificando a forma de comunicação entre o público consumidor de noticias esportivas que tem maior possibilidade de escolha. Finalmente os torcedores podem conhecer objetos que eram guardados como relíquias pelos colecionadores particulares. Crescem as publicações que exaltam a história do clube. Toda uma rede se prolifera com troca de mensagens entre vascaínos de diversos locais do planeta.
            É pela internet e nas ruas que desde o início do ano são realizados atos contra a CBF (e o seu presidente Ricardo Teixeira) e contra a FIFA, acusada de interferir nos interesses nacionais, além das constantes denúncias de superfaturamento das obras dos novos estádios apareciam na imprensa. Diversos setores da sociedade se manifestavam contra as arbitrariedades que se faziam em nome da Copa de 2014. Uma série de obras no entorno do Maracanã previa a destruição de uma escola conceituada e de diversos equipamentos esportivos tradicionais. Contra isso os torcedores foram convocados para um protesto em março com os uniformes de seus clubes. Cerca de 500 pessoas se reuniram na Praça Saens Peña, na Tijuca e caminharam até o Maracanã. O ato intitulado A CIDADE É NOSSA! tinha o objetivo de denunciar o processo de privatização de diversos espaços públicos da cidade, como a Marina da Glória e o Maracanã. No entorno do estádio, estava prevista a destruição da Escola Friedenreich, da Aldeia Maracanã, do Estádio de Atletismo Célio de Barros e do Parque Aquático Julio Delamare para a construção de lojas, bares e estacionamentos para servir a um shopping gerido pela empresa ganhadora da licitação.
            Ainda no mês de março seis integrantes da FJV foram presos acusados pelo assassinato de um torcedor do Flamengo em maio de 2012. Eles foram denunciados pelo Ministério Público pelo crime de homicídio triplamente qualificado (motivo fútil, meio cruel e impossibilidade de defesa da vítima).
            No começo de abril a Força Jovem promove o "Protesto Público Zero" em São Januário, em frente as sociais do clube, antes do jogo Vasco x Friburguense. Contando com cerca de 500 pessoas não ocorreu qualquer tipo de ato hostil, brigas, confusões ou transtornos graves. O alvo maior foi a administração de Roberto, acusando-o de um mau gestor: “o atual quadro de funcionários é praticamente mais que o dobro do que uma empresa que fatura. Além disso a qualificação de muitos que ali estão, está muito abaixo de qualquer tipo de exigências para os cargos que muitos ocupam”.
Neste período a antropóloga Rosana Teixeira escreveu um artigo que analisava as “novas torcidas”, entre elas a Guerreiros do Almirante, refletindo sobre o surgimento dos movimentos populares de torcedores no Rio de Janeiro, especialmente a partir de fevereiro de 2006. Inspirados nas “barras bravas” sul-americanas, especialmente naquelas vindas da Argentina, revelavam discordâncias em relação ao tipo de ação das torcidas organizadas, defendendo uma forma de sociabilidade torcedora distinta que parece indicar novos sentidos atribuídos à paixão pelo futebol. Os novos agrupamentos torcedores definiam-se como movimentos de arquibancada, sem rixas, que pretendiam inaugurar um “novo conceito de torcida”.
O livro “Hooliganismo e a Copa de 2014”, organizado por Bernardo Borges Buarque de Hollanda e Heloisa Helena Baldy dos Reis, apresentava uma série de artigos sobre a expectativa com todas as mudanças trazidas pela Copa do Mundo, como os novos estádios – ou “arenas” e os velhos problemas nas arquibancadas. Outra investigação acadêmica é a de Thiago Moreira da Silva em sua pesquisa de mestrado na Fundação Getúlio Vargas (RJ) com o título “A Bancada da Bola no Legislativo Carioca”, analisando a trajetória de diversos políticos cariocas que tiveram sua origem no esporte. Do Vasco se destacam o deputado estadual Roberto Dinamite, eleito várias vezes nestes anos e o vereador Roberto Monteiro, ex-líder da Força Jovem.
O campeonato brasileiro começou no final de maio e foi até o início do mês de junho quando foi interrompido na quinta rodada para a disputa da Copa das Confederações, antecipando o clima festivo da Copa do Mundo com uma grande campanha nacionalista pela imprensa. No entanto, o mês de junho seria marcado por uma gigantesca onda de manifestações em várias capitais do país, especialmente aquelas que sediavam os jogos da Copa das Confederações (disputada em todo este mês). Os protestos que tinham como objetivo inicial barrar o aumento das passagens dos transportes municipais, logo ganharam outras conotações com destaque para o questionamento dos gastos em obras voltadas para a Copa do Mundo em 2014. Os manifestantes apontavam em seus cartazes as contradições com os milhões investidos nos novos estádios (“arenas”) sem trazer maiores benefícios a população brasileira que continuava sofrendo com a baixa qualidade nos serviços essenciais.
O “Novo Maracanã” foi o alvo de um grande protesto no dia 20 de junho, simbolizando uma luta contra a transformação do futebol-negócio em detrimento dos torcedores para elitizar o perfil de seus frequentadores com a elevação do preço dos ingressos, a relação escusa entre o governo e o consórcio OLX/ Odebrecht, o controle de uma entidade estrangeira (a FIFA), e os abusos promovidos pela Lei Geral da Copa. No final um cordão de isolamento feito pela polícia impediu os manifestantes se aproximarem do estádio.
A vitória incontestável da seleção brasileira da Copa das Confederações trouxe o fortalecimento do sentimento nacionalista reforçado pelo canto à capela dos torcedores nos estádios de todo o hino e não apenas os 30 segundos determinados pela FIFA, sendo uma das marcas sonoras nos estádios em meio aos protestos do lado de fora.A final disputada no Maracanã, entre Brasil e Espanha, no domingo do dia 29 de junho de 2013, assistiu a intensos embates nas cercanias do estádio. Valendo-se da crítica aos gastos governamentais e da suspeição de corrupção por parte dos promotores do evento, manifestantes investiram em ações vandálicas contra a polícia, em trocas recíprocas de pauladas, pedradas, bombas de efeito moral, gás lacrimogêneo e balas de borracha”[1].
Com a reabertura do Maracanã para os clubes cariocas após a Copa das Confederações, uma polêmica logo contagiaria os dirigentes e as torcidas de Vasco e Fluminense. Tudo por causa da atitude dos cartolas do tricolor de escolherem ficar no lado direito das tribunas (local tradicional do Vasco). Apesar de ficar no lado esquerdo, a alegria dos vascaínos com a vitória sobre o tricolor por 3 a 1 só não foi maior que a de Juninho Pernambucano que voltava a jogar no Maracanã após 12 anos ausente. Sua volta foi em grande estilo, com direito a gol e os gritos da platéia que se vingou dos tricolores com o cântico no fim do jogo “Ôoo, ôôoo, ôôôoo, é o Destino”.
Neste ano o site Ludopedio, destinado a pesquisas sobre futebol, realizou uma entrevista com o professor Silvio Ricardo da Silva que explicou como desenvolveu sua trajetória acadêmica sempre pontuada por seu amor ao futebol e o seu clube de coração: “Vasco é anterior a tudo, é o início de tudo”. Sua relação com o futebol passa principalmente por sua família, em especial seu pai que lhe transmite o mesmo amor ao clube: “minha história com meu pai era de que ele não me contava historias de infância e sim histórias de futebol, sobre o que ele jogou e os feitos do Vasco. Isso foi me contaminando e desde que eu me lembro como gente, cinco, seis anos de idade, eu já frequentava o estádio. Isso foi muito forte na minha historia até hoje”. Para sua pesquisa de doutorado na Unicamp ele utilizou “entrevistas com torcedores, procurando variar idade, organizados, não-organizados onde também um indicava outro, e além disso observação. Ajudou-me muito ter contato com a própria história do Vasco. Eu precisava viver essa historia e falar para o mundo acadêmico essa história”.
O cineasta vascaíno José Henrique Fonseca fazia um documentário sobre o clube justamente na temporada em que o clube vivia uma péssima fase no campeonato brasileiro e era ameaçado de rebaixamento novamente. “Tenho vivido um contraste grande ao trabalhar numa historia tão bonita e o momento atual. Infelizmente, tem hora que a torcida não entende que só deveria ir ao estádio se fosse para apoiar”[2], lamenta o cineasta.
Em outubro as chances de o clube cair já estavam em 55%, segundo o matemático Oswald de Souza. Uma nova derrota para o Goiás provocou protestos da torcida que invade o vestiário em um dia de treino e cobram uma reunião com o diretor de futebol, Ricardo Gomes, e o técnico Dorival Júnior. Após o encontro o grupo vai para a arquibancada e grita "Não é mole, não. Tem cachaceiro jogando no Vascão", para o jogador Rafael Vaz e "Ô, ô, ô, ô, Bernardo é cheirador".
O pior estava por vir com a derrota para o Atlético Paranaense o clube era rebaixado e a transmissão ao vivo para todo o pais do vexame em campo (derrota por 5 a 1) só não foi pior que as cenas violência no estádio que contou com poucos policiais para a segurança dos torcedores. Além de dezenas de feridos, quatro pessoas removidas pela equipe médica foram levadas para o hospital em estado grave.
O confronto entre torcedores de Atlético-PR e Vasco em Joinville ganhou repercussão na imprensa mundial. A última rodada do Campeonato Brasileiro deixou marcas negativas para o país com as imagens para todo o mundo do país que sediaria a próxima a Copa do Mundo no ano seguinte.
Até o final do ano a imprensa esportiva acompanhou o trabalho da polícia e da Justiça que prendeu e processou vários líderes da torcida organizada Força Jovem do Vasco que já haviam se envolvido em um conflito que teve grande repercussão na imprensa com as imagens da TV na briga entre vascaínos e corintianos em agosto, em partida disputada em Brasília.
Após a ação da polícia de 3 estados prendeu 21 torcedores e estava a procura de mais 10, na operação batizada de “Cartão Vermelho”. No entanto, a ASTOVAS (Associação da Torcidas Organizadas do Vasco) lança uma nota defendendo seus torcedores e acusando o Atlético-PR, o Ministério Público e a Polícia de Santa Catarina de serem os maiores responsáveis pelo que aconteceu e acusa a diretoria do Vasco de omissão: “repudiar o tratamento ignominioso que nossos integrantes vem recebendo das ditas autoridades e de parte da grande imprensa, além de cobrar uma postura digna e honesta da atual diretoria Vascaína! Como foi inicialmente mostrado ao vivo, ainda sem possibilidade de cortes e edições farsescas que posteriormente apareceram, os torcedores do Vasco foram abandonados pela PM de Santa Catarina (...) Nós fomos agredidos e se não tivéssemos nos defendido, as conseqüências seriam ainda maiores do que alguns hospitalizados! Qual critério foi usado para deter apenas torcedores do clube carioca?”.
Fonte: Livro “100 anos da Torcida Vascaína”, escrito pelo historiador Jorge Medeiros.


[1] Fonte: Hollanda, Bernardo. “Hospitalidade à Brasileira? A Cobertura Midiática dos Jogos da Copa de 2014 no Maracanã” in A Copa das Copas? Reflexões sobre o Mundial de Futebol de 2014 no Brasil. / organização José Carlos Marques.E-book. São Paulo: Edições Ludens, 2015.
[2] Fonte: O Globo, 20 de setembro de 2013.

Vasco São Januário 2013

Vasco 2013


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