domingo, 19 de março de 2017

VASCO 2017: LIVRO "100 ANOS DA TORCIDA VASCAÍNA", 1981 DO PIQUETE AO PIQUET

                “Perigo: não fumem. Dinamite em campo”                                                                                               Concurso de frases promovido pelas Torcidas do Vasco
      
1981                       Do piquete ao Piquet
O nome de Lamartine Babo estará sempre ligado ao futebol de todos os clubes cariocas. Embora o compositor fosse fervoroso torcedor do America, ele foi o responsável, em 1944, por fazer o hino não oficial de todos os 12 times cariocas da época. Em homenagem a esta grande figura da música popular, a escola de samba Imperatriz Leopoldinense, apresentou como enredo principal a obra do compositor de memoráveis músicas e marchinhas. Com o samba-enredo "O Teu Cabelo Não Nega - Só Dá Lalá", centenas de torcedores desfilaram pela escola.
            Um passo importante na reivindicação dos torcedores veio em maio com a criação da ASTORJ (Associação das Torcidas Organizadas do Rio de Janeiro). Entre as principais metas da nova entidade estava o controle do preço dos ingressos. Com a inflação galopante desde 1979, os torcedores estavam preocupados com o aumento excessivo dos valor dos ingressos, acima dos índices da inflação. A atuação da ASTORJ expressava o sentimento geral  de que o espetáculo esportivo não poderia ser decidido apenas entre os dirigentes dos clubes e da federação carioca de futebol.
            Um dos frutos da criação da ASTORJ foi a greve geral promovida pelas torcidas em junho, nas reivindicações outros assuntos entravam na pauta de lutas: as fraudes e denúncias de corrupção em diversas partidas de futebol. Neste período a imprensa deu voz aos torcedores e fez inúmeras reportagens que confirmavam as denúncias. É inegável que, neste período, a ASTORJ, assume um compromisso de ser uma organização popular voltada para transformar o futebol e combater o elitismo dos dirigentes esportivos.  A reportagem esclarece o objetivo da 1ª reunião: “A Associação das Torcidas Organizadas (ASTORJ) vai realizar sexta feira sua primeira reunião, na Sede da FUGAP e na segunda sua Diretoria irá a reunião do Conselho Arbitral, na Federação, para exigir a redução dos preços dos ingressos no Maracanã e outros Estádios. A Chefe da Renovascão, Dulce Rosalina, Relações Públicas da Associação, disse que os torcedores promoverão um boicote total aos jogos se não for atendido seu pedido”.
            Alguns meses depois algumas divergências internas começam a aparecer e os líderes não conseguem unificar o seu discurso e a sua prática: “como consequência das denúncias sobre corrupção no futebol, a ASTORJ (Associação das Torcidas Organizadas do Rio de Janeiro), resolveu protestar nas partidas deste fim de semana, colocando suas faixas nos Estádios pelo avesso. A finalidade é demonstrar o repúdio do torcedor aos fatos denunciados e exigir a apuração rigorosa do caso, segundo um dos membros da Diretoria, Ely Mendes da Força Jovem. A manifestação com as faixas não conta com o apoio da Vice Presidente da Associação e Chefe da Renovascão, Dulce Rosalina, que  considera não haver motivo para desprestigiar clubes e jogadores não envolvidos em denúncias e promete colocar suas faixas no Maracanã normalmente amanhã”.
            Não era só acompanhando o futebol que os vascaínos vibravam no ano de 1981. As alegrias começava pelas manhãs dos domingos acompanhando as vitórias do piloto de Fórmula 1, Nelson Piquet, um vascaíno convicto. Em diversas reportagens o ídolo fazia questão de ressaltar o amor ao clube de seu coração. Por exemplo, em entrevista a Revista Placar em maio, Nélson comemorava a vitória na corrida em  San Marino dizendo que sua alegria só não era completa porque o Vasco havia sido eliminado do Campeonato Brasileiro. Dulce Rosalina ouviu esta entrevista na rádio e logo providenciou o envio de uma camisa do Vasco ao piloto. Piquet gostou, vestiu-a e desfilou com ela nos boxes do GP da Bélgica. A festa vascaína com seu idolo das pistas ficou completa com o seu primeiro título mundial em 1981.
            Indiscutivelmente as maiores emoções do ano ficaram reservadas para as últimas partidas de 1981 quando o clube disputou uma série de três partidas finais contra o Flamengo. O clube rival tinha uma  grande vantagem pois precisava de um simples  empate nas duas primeiras partidas para ficar com o título. No primeiro jogo a maioria da torcida no Maracanã ficou do lado adversário. Entretanto, os dois gols de Roberto fizeram a festa da torcida vascaína calar os rubro-negros.
            Para a segunda partida, os vascaínos prometiam dividir as arquibancadas: “ontem, grande movimentação por parte dos Chefes das Facções da Torcida Vascaína e todos obviamente animados com o sucesso do time. Mas no domingo, a tarefa de torcer não foi das mais fáceis. Ely, Chefe da Força Jovem, contou um lance pitoresco. “Conseguimos 5 mil bolas de aniversário para soltar no Maracanã. Chegamos lá as 11 horas e ficamos até as 15 horas enchendo. Trinta caras para encher tantas bolas, acabou não dando tempo. Ficamos cansados, enchemos apenas 1 mil 500 e mesmo assim fomos mais entusiasmados do que o Flamengo. Para amanhã, papéis picados e as bolas já estão providenciados”[1].
            O segundo jogo teve novamente a vitória do Vasco, dessa vez com um sabor especial com um gol de Roberto nos minutos finais quando os flamenguistas já comemoravam o título. A empolgação dos vascaínos com o momento era nítida e não faltaram provocações: “muitos torcedores lamentaram ontem em São Januário o fato de o Presidente da Federação Otávio Pinto Guimarães, não ter permitido que os ingressos do jogo fossem impressos com as cores dos Clubes . Iriam segundo eles, provar que a Torcida do Vasco é a maior do país”[2].
            A cidade do Rio de Janeiro parou para acompanhar a terceira e última partida da decisão. De um lado estavam os vascaínos, entusiasmados com o crescimento do poder de reação de seu time na reta final. Do outro lado, estavam os rubro-negros preocupados com um terceiro fracasso e a repercussão que isto poderia trazer para o time que disputaria a final do mundial interclubes no Japão, na semana seguinte. A verdade é que o título foi decidido dentro e fora do gramado. Em campo o Flamengo iniciou bem a partida e fez logo dois gols. No segundo tempo, o time do Vasco se reencontrou e reagiu pressionando até marcar o gol nos 10 minutos finais. A partir daí “a torcida rubro-negra que cantava “vou festejar”, sucesso na voz de Beth Carvalho, emudeceu. Animado, o time de São Januário passou a pressionar, quando surgiu em pleno gramado um personagem que passou a fazer parte do folclore do futebol carioca: Roberto Ladrilheiro” (Assaf e Martins, 1999, p.70).
            Até hoje a história da invasão do torcedor da geral não foi bem explicada. E a versão que ficou foi a oficial. O que de fato aconteceu foi uma vergonha e mostrou que os rubro-negros haviam se preparado para ganhar aquele jogo de todas as maneiras. Muitas pessoas afirmam que o Ladrilheiro não saiu da geral e sim do banco de reservas do Flamengo.
            Em seu depoimento para o livro de Hilton Mattos, Heróis do Cimento, o torcedor diz que o técnico Paulo Cesar Carpegiani lhe deu sinal verde para ele entrar, dizendo “vai, vai”. Como um técnico falaria para um desconhecido para entrar em campo e tumultuar o jogo? O Ladrilheiro “atendeu o  pedido do treinador. Cruzou o campo como uma flecha, atrapalhou a cobrança de falta de Dinamite (...) lá do alto a torcida do Flamengo gritava histérica, saudando seu representante invasor” (Mattos, 2007, p.89). E assim se passaram alguns minutos que esfriaram a reação vascaína.
            Nenhum cruzmaltino engoliu aquele título naquelas circunstâncias e o silêncio da imprensa apenas confirmava como esta estava comprometida em assegurar “o resultado do time inesquecível”. A resposta do Almirante veio ao longo de toda a década com inúmeras vantagens para a nossa agremiação.
Fonte: Livro “100 anos da Torcida Vascaína”, escrito pelo historiador Jorge Medeiros.


[1] Fonte: Jornal do Brasil 01 de dezembro de 1981.
[2] Fonte: Jornal o Globo 02 de Dezembro de 1981

Vasco Jornal O Globo 1981

Vasco Revista Placar 1981

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