sábado, 11 de março de 2017

VASCO 2017: LIVRO "100 ANOS DA TORCIDA VASCAÍNA", 1980 DINAMITE ENTRE O PAPA E SINATRA

                                                    “Não tememos esse ridículo combinado de Torcidas”
                                                                          Amâncio César, TOV

1980                Dinamite entre o Papa e Sinatra

Criada no final do ano de 1979, a CBF tinha como desafio maior dar um novo rumo para o futebol brasileiro e iniciar um processo de modernização deste esporte. O primeiro passo foi a criação do técnico exclusivo: Telê Santana deixava o Palmeiras e passava a dar toda atenção ao selecionado brasileiro.
No Vasco a principal mudança era a contratação de Jorge Mendonça para cobrir a saída do ídolo Roberto Dinamite vendido para o futebol espanhol. Os dois eram craques e brilharam na Copa de 1978, mas eram jogadores de estilos bem diferentes (Roberto era centroavante e Mendonça era meia esquerda), contudo para Dulce Rosalina valia o ditado “rei morto, rei posto”, para ela o ex-atacante do Palmeiras, seria o jogador perfeito para dar um toque refinado ao time e ser o principal elo de ligação com o centroavante Paulinho. Não seria uma tarefa tão simples como os dirigentes e a torcedora-símbolo apostavam, mas a rivalidade com o Flamengo reaproximaria Roberto ao Vasco em questão de poucos meses.
Antes da visita do papa ao Maracanã, o nome mais ouvido pelos gritos da galera era Roberto Dinamite, após três meses em Barcelona e insatisfeito com o novo clube, o ídolo foi sondado por dirigentes de Flamengo que negociavam sua volta para o Brasil e formar uma dupla de ataque com Zico.
Marcio Braga, principal dirigente rubro-negro, antecipava pelos jornais a contratação do atacante e provocava a torcida vascaína. Neste momento dirigentes vascaínos passam a negociar também. A disputa entre os diretores dos clubes rivais acirrava o debate entre os torcedores que aguardavam com imensa expectativa o desfecho daquele confronto.
Para  o Vasco virou uma questão de honra não deixar o rival colocar a sua camisa rubro-negra no principal ídolo cruzmaltino dos anos 1970. E foi o que aconteceu: Roberto volta ao Brasil com uma recepção calorosa no aeroporto feita pelas torcidas.
A resposta do Flamengo viria a seguir com a partida entre Vasco e Corinthians no Rio de Janeiro. Na semana da estreia de Roberto no Maracanã a polêmica foi apimentada por Marcio Braga que, desmoralizado com sua torcida, tenta dar a volta por cima resolvendo acirrar os ânimos entre cariocas e paulistas, ao promover a união das torcidas de Flamengo e Corinthians contra o Vasco.
Sua estratégia de marketing era criar a “Fla-Fiel”, uma alusão a junção da torcida do Flamengo com a maior torcida organizada do Corinthians, a Gaviões da Fiel. O objetivo era incentivar uma nova invasão corintiana como foi feita em 1976. Mas o golpe completo foi marcar rodada dupla (o Vasco foi contra) com a preliminar entre Flamengo e Bangu, também pelo campeonato brasileiro (mas em outra chave). A partida principal ficaria entre Vasco e Corinthians.
O resultado final deixou qualquer vascaíno em êxtase e até hoje faz questão de lembrar: goleada por 5 a 2, com 5 gols de Dinamite. Marcio Braga e a torcida do Flamengo querem esquecer para sempre aquele dia...
Em 1980 o Maracanã deixou em duas ocasiões de ser o palco principal do futebol para receber duas atrações extra-esportivas. A primeira foi em janeiro com o cantor norte-americano Frank Sinatra que visitava o país pela primeira vez. Ele conseguiu levar mais de 100 mil pessoas ao estádio que conheceu, neste dia, um dos personagens mais folclóricos da década, mais conhecido como o Beijoqueiro.
Se Sinatra fez sucesso no Maracanã, poucos meses depois ele seria suplantado por uma figura religiosa de grande popularidade: a visita do Papa João Paulo II ao Brasil. Aquela seria a sua primeira vez no país e, sem dúvidas, a mais importante. Percorrendo varias cidades, o papa conseguiu arrebanhar milhares de pessoas pelos estádios por onde passou, sem contar com a transmissão ao vivo pela TV em alguns locais.
Na ocasião uma música[1] marcaria o contato do sumo pontífice com as multidões. A canção em sua homenagem “A benção João de Deus” era cantada em todos os cantos do país, tornando-se um ícone no imaginário popular da época. Logo a música seria  incorporada pelas torcidas de seus clubes nos estádios. Em principio ela não tinha identificação com nenhum clube específico.
Antes da visita do Papa ao Brasil o Flamengo conquistaria seu primeiro campeonato brasileiro. Para fazer frente a Flapress que vivia endeusando o clube da Gávea, o Vasco fazia uma nova grande contratação. Trazia do Grêmio o tricampeão mundial, Paulo César Caju. O atacante que já havia jogado pelo Botafogo, Flamengo e Fluminense, agora seria a nova estrela vascaína. Empolgada com a contratação, a torcida da cruz de malta foi maioria absoluta nos mais de 60.000 pagantes[2] que prestigiavam a estréia do craque no primeiro jogo da Taça Guanabara de 1980.
Mas não era somente PC que a torcida queria ver, tinha também um elenco feminino especial que entraria em campo: as “foguetes”. Uma novidade lançada pelo apresentador de TV Carlos Imperial. As “lebres do Imperial” entraram em campo com uma bandeira gigante do Botafogo e distribuindo flores. Foram recebidas calorosamente pela torcida vascaína aos gritos de “Piranhas, piranhas”.
Mas a gozação maior veio no final do ano com a derrota do Flamengo para o Serrano com o gol de Anapolina. Com este resultado, o rubro-negro viu o Vasco assumir a liderança do campeonato e depender só dele para conquistar o título. O que acabou acontecendo na semana seguinte com a vitória sobre o Americano em São Januário. O troféu do segundo turno foi comemorado intensamente pelos vascaínos que lotaram o seu estádio (mais de 20.000 pessoas) e viram seu clube fazer o gol da vitória no último minuto. Ao final da partida uma multidão invadiu o gramado para comemorar com os jogadores e fazer um verdadeiro carnaval em campo. Foi uma das partidas mais emocionantes de todos os tempos no nosso glorioso estádio[3].
A festa dos vascaínos ficaria completa no fim do ano com a conquista do campeonato carioca pois quebraríamos a “escrita” diante do Fluminense. No entanto, o time não estava inspirado e o tricolor venceu o Vasco por 1 a 0, gol de falta de Edinho[4]. Pouco antes da cobrança, na tensão do empate, os tricolores resolveram entoar a “canção do Papa”. Daí em diante ficou para sempre na lembrança dos tricolores. Era a senha para os tricolores incorporarem em definitivo a canção como uma graça divina alcançada. Virou o “hino da torcida tricolor”.

[1] Nas rádios de todo o Brasil, o “Balancê”, era a música de maior sucesso na voz da cantora baiana Gal Costa. A sua letra seria adaptada pela torcida do Vasco em 1992 para gozar com os rubro-negros, na tragédia do Maracanã naquele ano.
[2] Apesar do aumento expressivo no preço das arquibancadas que passou de Cr$ 80,00 para Cr$ 120,00, o que provocou uma reação da torcida. Dulce Rosalina chegou a sugerir uma greve dos torcedores como protesto pela majoração dos ingressos.
[3]  O locutor esportivo da TV e colunista do Jornal dos Sports, Carlos Lima,  comentou: “Em quase 30 anos de carreira, com muitas Copas, Olimpíadas, pentacampeonato do meu Esporte Clube Bahia, nunca vi o que Vasco e Americano proporcionaram na quarta passada: vi gente desfalecendo e vi gente chorando"
[4]  No duelo das torcidas no estádio, o Jornal do Brasil do dia seguinte fez a seguinte comparação: “Visualmente na entrada dos times em campo, a torcida do Vasco levou vantagem: as bandeiras, papéis brancos e foguetes fizeram maior efeito do que o talco e foguetório dos tricolores. Em entusiasmo, no entanto, perdeu nitidamente para o Fluminense, principalmente depois do gol”.
Fonte: Livro “100 anos da Torcida Vascaína”, escrito pelo historiador Jorge Medeiros.

Vasco 1980

Vasco Jornal do Vasco 1980



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